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Entrevista – Mário Negromonte: “Não posso falar em palanque para 2026 antes de definir partido”
Entrevista – Mário Negromonte: “Não posso falar em palanque para 2026 antes de definir partido”
Por Política Livre
07/07/2025 às 11:13
Atualizado em 07/07/2025 às 12:11

Foto: Divulgação/Arquivo
Aposentado do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) desde domingo (06), Mário Negromonte faz planos de retornar à política. Nesta entrevista exclusiva ao Política Livre, o primeiro veículo de imprensa com o qual falou abertamente sobre o assunto após deixar a Corte, ele não descarta sequer a possibilidade de concorrer a um cargo público em 2026, embora esteja analisando também convites da iniciativa privada.
Formado em Direito e com uma trajetória bem sucedida como empresário no ramo da construção civil na região de Paulo Afonso, no norte do estado, o entrevistado ressalta que qualquer decisão sobre o futuro será tomada a partir do diálogo com o filho, o deputado federal Mário Júnior, presidente do PP na Bahia, posto que já foi ocupado também pelo pai. “Ele que é o chefe agora, não é?”, brinca o ex-conselheiro, cuja esposa, Vilma Negromonte (PP), é prefeita no município de Glória.
Antes de ficar 11 anos no TCM – foi nomeado pelo então governador Jaques Wagner (PT) em 2014 –, Mário Negromonte foi deputado estadual uma vez, deputado federal cinco e ministro das Cidades no governo Dilma Rousseff. Passou pelo MDB e pelo PSDB até chegar ao PP, em 2003. Ainda não bateu o martelo sobre o futuro partidário.
Na entrevista, ele também responde a perguntas sobre a federação entre o PP e o União Brasil e o palanque no qual deve estar em 2026. Negromonte faz ainda um balanço sobre o tempo que passou no TCM.
Confira abaixo a íntegra.
Política Livre - O senhor ficou 11 anos como conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM). Notou, em mais de uma década, uma evolução na forma como prefeitos e presidentes de câmaras de vereadores gastam os recursos públicos?
Mário Negromonte - Eu recebi muitos prefeitos e nós tivemos, do outro lado da mesa, toda a paciência do mundo para fazer isso, assim como os presidentes das câmaras municipais, das entidades. Sempre busquei o caminho da orientação, um papel pedagógico, procurando conhecer de perto a realidade de cada um. Eu ficava de coração partido quando tinha que rejeitar alguma conta. Mas quando havia muitas irregularidades, não havia o que fazer, pois a lei precisa ser aplicada. Eu fui muito paciente com as solicitações, a exemplo de prazo, porque muitas vezes as prefeituras não tinham gente capacidade para ajudar na análise técnica, jurídica, enfim. Ainda sobre a sua pergunta, o que posso dizer é que, na realidade, nesse período, houve uma evolução dos tribunais de contas do Brasil, inclusive na Bahia, e isso ajudou muito os prefeitos e presidentes de câmara.
"Eu recebia, às vezes, o mesmo prefeito que estava com problemas três vezes. Mesmo se esse prefeito fosse, no meu tempo da política, adversário"
Alguns políticos criticam o caráter punitivo do TCM, afirmando que o tribunal deveria atuar mais no sentido de orientar os gestores. Então o senhor concorda com isso, pela forma como atuou.
Como eu sou oriundo da política, sempre tive essa visão, a necessidade de ter paciência e tolerância aguçadas. No meu gabinete no TCM, eu recebia sempre os gestores e os técnicos para conversar, receber documentos, complementar defesas. Logicamente que fazia isso respeitando o regimento do tribunal, a aplicação das leis. Mas na minha vida eu sempre preferi tirar os espinhos a colocar espinhos.
O que mais motivou o senhor a rejeitar contas?
Quando o gestor gasta mais do que arrecada. Ou quando aparecia crédito suplementar sem autorização da Câmara Municipal. A questão do índice de pessoal fora do que determina a legislação também motivou muitas rejeições de contas. Então foram esses motivos aí. Claro que havia outras coisas, como gastos excessivos com combustíveis, licitações com erros.
O senhor, que antes de assumir o tribunal era deputado federal e tem hoje um filho e a esposa na política, teve atrito mais sério com algum prefeito por conta de rejeição de contas?
Não porque, além de atuar de acordo com as normas, sempre fui muito paciente. Eu recebia, às vezes, o mesmo prefeito que estava com problemas três vezes. Recebia, chamava a minha equipe técnica. Mesmo se esse prefeito fosse, no meu tempo da política, adversário. Alguns desses prefeitos chegavam no meu gabinete no tribunal preocupados e eu falava: pode ficar tranquilo porque eu não julgo pessoas, julgo processos. A capa do processo não vem com a foto de ninguém. Posso citar o caso do município de Paulo Afonso, minha terra natal, quando aprovei contas mesmo na gestão de adversários no tempo em que fui político ou mesmo de adversários do meu filho, que hoje é deputado. Eu sempre preferi fazer o bem no tribunal e ao longo da minha vida. Tanto que tive pouquíssimos adversários na política. E essa minha passagem pelo tribunal enriqueceu muito a minha vida pública. Eu saio mais experiente, maduro.
No tribunal, inclusive, o senhor conviveu nos últimos meses com um dos adversários políticos do seu filho, o conselheiro Paulo Rangel, que foi deputado estadual pelo PT e também nasceu em Paulo Afonso. Como era a relação de vocês?
Eu disse isso no meu discurso de despedida do tribunal, que Paulo Rangel foi uma grande surpresa, uma grata surpresa. Ele é um cara excepcional, virou aqui meu amigo excepcional. Eu ainda brinquei com ele e disse que se tivesse conhecido ele antes a gente teria feito dobradinha, ele estadual e eu federal, lá na região. Pena que isso não pôde acontecer com Mário Júnior.
Vez ou outra vemos políticos ou analistas defendendo a extinção do TCM, alegando que o tribunal não existe na maioria dos estados, que representa um gasto desnecessário e que, no final das contas, quem julga as contas dos prefeitos são as câmaras municipais. O que o senhor diz sobre essas críticas?
Olha, o papel do tribunal é exemplar. A prova é que o governador Jaques Wagner, a quem agradeço muito por ter feito a minha nomeação como conselheiro e hoje é senador, introduziu aqui o Ministério do Público de Contas, que também preenche um papel extraordinário, entendeu? Ou seja, para se ter uma boa governança, é preciso fortalecer o time dos tribunais. Além disso, essa crítica aí era mais comum no passado. Hoje, o tribunal está consolidado. Eu acho que o TCE (Tribunal de Contas do Estado) não teria condições de fazer o que faz hoje e ainda tratar dos municípios. Se fosse para fazer, teria que ampliar, o que representaria também mais gastos. Não haveria, portanto, economia. O TCM hoje mal consegue dar conta de todos os processos.
"A minha cabeça está boa, memória boa, mente boa, condição física também. Eu já recebi convites aqui da Bahia e de fora do estado para voltar à política ou à iniciativa privada"
Com sua aposentadoria, há agora a discussão sobre quem irá sucedê-lo no tribunal. A vaga será do Ministério Público de Contas, órgão que o senhor acabou de citar aí. E uma das concorrentes é a sua nora, Camila Vasquez, esposa de Mário Júnior. Acredita que ela será a escolhida pelo governador Jerônimo Rodrigues (PT)?
Olha, são três nomes do Ministério Público de Contas que o tribunal vai indicar para o governador. O governador vai pegar a lista de tríplice e vai analisar. Todos eles são concursados e a doutora Camila é a mais velha. Ela é muito competente e está concorrendo. Mas cabe ao governador decidir e cabe à Assembleia Legislativa analisar depois. Lógico, eu estaria mentindo se dissesse que eu não torço por ela. Claro que eu torço. Até porque eu a conheço, é competente, vai dar uma grande contribuição ao tribunal. Mas uma coisa é torcer, outra coisa é ver o que vai acontecer.
Encerrado este ciclo de 11 anos no TCM, pretende agora retornar à política, o senhor que já foi deputado estadual uma vez, federal cinco vezes e ministro de Estado?
Na realidade eu sempre dizia o seguinte: eu saí da política, mas a política não saiu de mim. Porque isso faz parte da experiência que eu adquiri ao longo da minha vida. E outra coisa: eu tenho amigos no Brasil inteiro que fiz como deputado federal, como ministro das Cidades. A gente conversa com todo mundo. A minha cabeça está boa, memória boa, mente boa, condição física também. Eu já recebi convites aqui da Bahia e de fora do estado, a exemplo de São Paulo a Brasília, para voltar à política ou à iniciativa privada com a minha aposentadoria no tribunal. Fui empresário da construção civil na região de Paulo Afonso, e graças a Deus foi outra atividade na qual tivesse sucesso. Também fiz amigos nessa área. Posso voltar para a política, para a área da construção ou mesmo fazer consultoria política, técnica, advocatícia. Estou analisando com meu filho, o deputado Mário Júnior, para vermos qual é o melhor caminho.
Mário Júnior não prefere o senhor ao lado dele em alguma missão política?
Muitas vezes porque eu converso com todo o Brasil, estou bem atualizado na política, e isso é um handicap muito positivo. Mas eu tenho recebido convites da área privada, empresarial. Aí eu vou analisar. Vamos analisar, eu vou conversar com os amigos, com família, com o Mário Júnior, enfim. Vamos analisar isso com calma.
O senhor costuma dizer que entrou na política por acaso antes de ser eleito para o primeiro cargo público, o de deputado estadual, no início da década de 1990. Se decidir retornar, agora será de forma planejada, então.
Sim. Eu era empresário em Paulo Afonso e o meu cunhado Adauto Pereira, o político da família, faleceu naquele acidente aéreo no qual morreu também Clériston Andrade, na época candidato a governador. Com isso, eu fui praticamente convocado para ser substituto, para ser o defensor da região de Paulo Alfonso na Assembleia. Naquela eleição (1990), fui o candidato mais bem votado a deputado estadual. Estava no PSDB. Como disse antes, vamos analisar com calma os próximos passos.
"Até lá, não só PP, como outros partidos que discutem federação, podem criar, por exemplo, uma válvula de escape, para ficar liberado nos estados para seguirem quem quiser. Seria uma decisão mais democrática"
Mas pensa em ser candidato novamente a algum cargo público?
Vamos analisar no momento certo. Vou conversar principalmente com Mário Júnior. Ele que é o chefe agora, não é? Ele é quem tem mandato. Vou seguir a orientação dele. Vamos somar juventude e experiência para definirmos os melhores caminhos.
Uma candidatura em 2026 a deputado estadual estaria descartada?
Não, isso tudo vai ser matéria para analisar. Vamos analisar tudo isso, amadurecer.
O senhor, ao lado do hoje deputado federal João Leão, teve um papel fundamental no crescimento do PP na Bahia. Lá do tribunal, como analisou o rompimento do partido com o PT no estado nas eleições de 2022?
Olha, se eu estivesse no partido, não sei se a gente poderia conduzir dessa forma, não é? Leão é um amigo, e ele teve os seus motivos. Eu acho que não houve compreensão dos dois lados, enfim. Mas é uma coisa que passou, e eu não gosto de falar sobre o passado, até porque eu posso até atingir pessoas, e eu não quero fazer isso. Eu sempre defendi a busca insistente do diálogo para que ninguém tenha prejuízo político. Hoje, a gente tem que relevar. O próprio Leão também não é uma pessoa que guarda mágoa. Fizemos muitos amigos juntos no passado. Hoje, Mário Júnior se dá muito bem com o governador Jerônimo, com o ministro Rui Costa (Casa Civil), com o senador Wagner. Eu também me dou muito bem com Wagner, com Jerônimo, com o Rui. E Mário Júnior continua conversando, dialogando, nessa direção. Assim como em Salvador Mário Júnior se dá muito bem com o prefeito Bruno Reis (União), assim como eu também.
Mário Júnior tem se colocado contra a federação entre o PP e o União Brasil. O que o senhor acha desse “casamento”?
Olha, eu vou lhe falar com toda franqueza. A conta que se faz é que, com essa federação, o PP da Bahia deixaria de eleger dois deputados federais e quatro estaduais. Alguns deixariam o partido, no caso da Assembleia. Na verdade, o instrumento da federação foi inventado lá na Europa justamente para salvar os partidos menores, coisa que o PP não é. Então, essa era a função maior. Eu sou a favor da aliança partidária, entendeu? Mas é preciso ter alguma afinidade também nos estados. Estou vendo aí que PP e União Brasil são até adversários em alguns lugares, como é o caso da Paraíba, onde o PP tem um candidato a governador e o União Brasil tem outro. Antes de a federação ser formalizada na Justiça Eleitoral, é preciso ver essa questão dos estados.
Na Bahia, parte importante do partido deseja hoje ficar ao lado do governador, mas a federação, quando oficializada, será controlada por ACM Neto, pois o União Brasil tem um número maior de deputados federais...
Sim... Se a federação for realmente consumada, porque tem essas questões nos estados, as tendências. Em alguns têm havido problemas. Ninguém sabe o que pode acontecer ainda, porque também depende muito do cenário nacional. Até lá não só PP, como outros partidos que discutem federação, podem criar, por exemplo, uma válvula de escape, para ficar liberado nos estados para seguirem quem quiser. Seria uma decisão mais democrática.
"Todos eles falam comigo, inclusive o senador Ciro (Nogueira), que foi meu colega na Câmara dos Deputados. Então, é uma relação de amizade muito grande"
Em que palanque Mário Negromonte estará em 2026 nas disputas majoritárias? Seu filho hoje está na base do presidente Lula (PT) e anda bem próximo de Jerônimo...
Olha, eu vou esperar, primeiro, estar filiado a algum partido político. Hoje não estou filiado a nenhum. Não posso falar em palanque para 2026 antes de definir partido. Me desfiliei do PP quando virei conselheiro. Além disso, vou seguir os passos do meu filho. Vamos conversar, dialogar, falar também com os amigos.
O senhor vê a possibilidade de Mário Júnior disputar a reeleição em 2026 por outro partido que não o PP, onde ele sempre esteve?
Não, talvez não. Ele nunca me falou nisso, não. Ele quer construir uma saída dentro do PP.
Qual é a sua relação hoje com os caciques nacionais do PP, a exemplo do presidente nacional do partido, senador Ciro Nogueira (PI), e do ex-presidente da Câmara Federal Arthur Lira (AL)?
É uma relação muito boa. Lira e meu filho são amigos. Todos eles falam comigo, inclusive o senador Ciro, que foi meu colega na Câmara dos Deputados. Então, é uma relação de amizade muito grande.


