Radar do Poder: O arquivamento do caso dos respiradores, a preocupação com Isabela, Pedro Maia na corda bamba e o exército jurídico contra a socialite baiana

Sem crime

De Brasília, pelo menos as últimas notícias jurídicas são boas para o ex-governador e atual ministro Rui Costa (Casa Civil). Depois da névoa de especulação que se seguiu à decisão do procurador geral da República, Paulo Gonet, de enviar para prosseguimento no Superior Tribunal de Justiça (STJ) o famoso processo dos respiradores em que figura como um dos acusados, o ministro, segundo se comenta no governo Lula, deve ser agraciado com o arquivamento do caso por falta de provas de conduta criminosa. Por atingir figura tão próxima ao presidente, a iniciativa de Gonet chegou a produzir boatos de que Rui estava sendo alvo de fogo amigo.

Aproximação monitorada

Depois de simularem um pretenso desprezo, lideranças petistas passaram a monitorar com atenção a aproximação entre o ex-prefeito ACM Neto, virtual candidato do União Brasil à sucessão estadual, e a empresária Isabela Suarez, principalmente após um evento de que participaram em Feira de Santana, ao lado do prefeito José Ronaldo (UB), no qual foram fotografados algumas vezes de forma absolutamente natural e descontraída, como se tivessem laços de intimidade. Há temor de que se concretizem as especulações de que Isabela pode vir a aceitar um eventual convite de Neto para ser sua vice em 2026, como já antecipou a Radar do Poder.

Par perfeito

A preocupação com uma eventual chapa ACM Neto-Isabela se aprofunda ante, segundo assessores, a dificuldade de Jerônimo Rodrigues (PT) entender a necessidade de, como governador, fazer um esforço para melhorar seu relacionamento com o segmento empresarial, no qual Isabela, que é também presidente da Associação Comercial da Bahia, desponta com liderança e influência natas. Aliás, há quem avalie no governo e no PT que, até por motivos de complementariedade, a empresária seria um par muito melhor para Jerônimo do que para Neto. Discretíssima e sagaz, ela evita, naturalmente, falar sobre o assunto.

Nacionalização

Advogados com trânsito no Tribunal de Justiça da Bahia asseguram que não vai parar na Bahia o caso de um servidor exonerado pela presidente Cyntia Resende acusado de assédio, ameaças e outros atos gravíssimos contra funcionários terceirizados. Mesmo porque, não se sabe ainda por qual razão, apesar do apelo das vítimas, as providências demoraram a ser tomadas, tendo sido adotadas apenas depois de uma decisão firme do desembargador Roberto Maynard Frank, Corregedor Geral, que, rechaçando um pedido de reconsideração, manteve, com base em "elementos suficientes de autoria e materialidade", o processo administrativo disciplinar contra o funcionário.

Recondução em xeque

Duas operações policiais recentes conduzidas pelo Gaeco em parceria com o Ministério Público da Bahia teriam colocado em xeque a confiança do governo estadual no procurador-geral de Justiça, Pedro Maia, ameaçando sua recondução ao posto em 2026. De acordo com uma fonte com acesso ao núcleo jurídico do governo, depois da relação fria com a antecessora, a procuradora Norma Cavalcanti, aguardavam-se laços mais amistosos com o atual titular do MP, considerado muito distante do perfil conciliador, acessível e político do ex-procurador Wellinton Lima e Silva, que já deixou o Ministério Público e foi o primeiro indicado pelo PT para gerir o órgão, há quase 20 anos.

Golias

Passou a chamar a atenção de promotores e procuradores estaduais e federais o furdunço em torno de uma ação judicial que deveria correr em segredo de Justiça numa Vara de Família da Bahia em que uma conhecida socialite pede a astronômica soma de R$ 300 milhões de indenização contra o ex-marido bilionário. O motivo: o exército de 36 advogados constituídos pelo querelado, entre os quais pontua o célebre ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, para fazer frente à defesa da mulher, formada por apenas dois profissionais que, embora respeitadíssimos na Bahia e nacionalmente, se tornaram vítimas de uma aberta campanha de difamação por meio de certa imprensa.

Mala

Queimada entre os colegas desde que tentou fazer o próprio filho, o advogado criminalista Carlos Magnavita Jr., desembargador na vaga destinada aos advogados, a candidata à presidência do Tribunal de Justiça Ivone Bessa é do tipo que tenta convencê-los a votar nela pelo cansaço. Exclusivamente para se desvencilhar do chororô com que os aborda dizendo que merece ser eleita porque esta é sua última chance de concorrer, já que se aposenta daqui a três anos, muitos acabam admitindo que votarão em Bessa para em seguida se queixar aos pares da dificuldade de lidar com uma postulante 'tão sem noção'.

Incomodado

Quem mais se preocupou no campo oposicionista com o lançamento da pré-candidatura ao governo do ex-deputado José Carlos Aleluia (Novo) foi o ex-ministro João Roma, do PL. Sem condições de prever o que pode acontecer no futuro num Brasil conturbado pela polarização e o radicalismo que ele mesmo incentiva, Roma teme que possa ter que eventualmente ceder o espaço prometido a ele na chapa de ACM Neto (União Brasil) ao ex-parlamentar. Mesmo porque muito pouca gente acredita que a reconciliação entre o ex-ministro e o ex-prefeito possa ser verdadeira, como ele e a mulher, a deputada federal Roberta Roma (PL), tentam assegurar por meio das redes sociais.

Verão passado

Aliás, passando pela Câmara Municipal de Salvador na última semana, um netista descreveu a 'reincorporação' de Roma ao grupo como 'politicamente esperada mas emocionalmente insondável'. E previu que à luz de um suposto traço rancoroso atribuído aos Magalhães, ela teria data para expirar: o domingo de 4 de outubro do ano que vem, dia das eleições. Argumenta que Roma não tem como se tornar confiável de novo para Neto por causa de seu comportamento na campanha de 2022, quando, além de ter deixado claro que nutria enorme ressentimento pelo ex-chefe, tentou claramente destruí-lo num debate cujo registro a internet não esquece.

Pitacos

* Prefeito de Feira de Santana, José Ronaldo (UB) terá que se esforçar muito na região para desconstruir a ideia de que pretende cruzar os braços na campanha de ACM Neto ao governo. Entre seus principais aliados, os termos usados para se referir ao ex-prefeito continuam sendo muito duros.

* Mesmo deputados governistas ficaram desconfiados da iniciativa do governo de lançar a Seponte, a secretaria estadual da Ponte Salvador-Itaparica, obra prometida há 18 anos pelo PT na Bahia, logo nos primeiros meses do então governo Jaques Wagner.

* Não foi por outra razão que muitos riram quando a oposição na Assembleia, que fala para dentro, resolveu fazer um trocadilho com o nome, chamando a nova pasta de "Semponte", o que derivou para a designação os "Sem-ponte", aplicável aos soteropolitanos que aguardam o empreendimento.

* Para não restringir os gracejos envolvendo a nova secretaria do governo, deputados de oposição fizeram divulgar ontem na Assembleia que o nome mais adequado para assumir a pasta seria o do deputado federal João Leão, da banda oposicionista do PP no Estado.

* Com a expectativa do lançamento da candidatura de Tarcízio de Freitas (Republicanos) ou de Ratinho Jr. (PSD) à sucessão presidencial, Otto Alencar se resguarda na Bahia em posição reforçada para negociar a manutenção de Angelo Coronel na chapa de Jerônimo Rodrigues.

* Antes, no entanto, o senador vai mirar na nomeação do filho homônimo, hoje deputado federal, para o cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), decisão que o governador tem, estrategicamente, empurrado com a barriga.

* O prestígio de Angelo Coronel (PSD) entre os prefeitos, evidenciado nos eventos de que participa no interior, tem assustado o governo e irritado, especialmente, o ministro Rui Costa, que disputa com ele a vaga de senador na chapa de Jerônimo. Os dois atribuem o sucesso do senador às emendas que envia a Prefeituras.

* Mesmo entre prefeitos governistas, a avaliação é de que para consolidar a atração dos gestores de oposição que vem pilotando pelo interior afora o governador precisa cumprir as promessas que faz em cada município porque passa.

* De passagem esta semana pela Assembleia Legislativa, o prefeito Leosmy Gama, de Pilão Arcado, admitiu que a turma no interior espera que as obras cheguem para decidir com quem ficar em 2026. Detalhe: o prefeito é do PT.

* A recente operação policial em São Paulo que desbaratou um esquema de lavagem de dinheiro envolvendo combustíveis e mandatos políticos levou a cochichos na Assembleia de que fenômeno semelhante acontece na Bahia e não tarda o MP, com o Gaeco, entra em cena.