Dólar abre em baixa com exterior no foco dos investidores
Por Folhapress
23/10/2025 às 09:45
Atualizado em 23/10/2025 às 19:15

Foto: Marcelo Casal Jr / ABr /Arquivo
O dólar abriu em queda nesta quinta-feira (23), alinhado ao recuo da moeda norte-americana ante outras divisas de emergentes no exterior, onde investidores seguem à espera dos dados de inflação dos Estados Unidos na sexta-feira (24).
Às 9h12, a moeda americana caía 0,21%, aos R$ 5,3864. Na quarta (22), o dólar fechou em alta de 0,12%, a R$ 5,396, e a Bolsa avançou 144.872 pontos.
Em entrevista na terça-feira (21), o ministro Fernando Haddad (Fazenda) confirmou que o Executivo irá fatiar as medidas de compensação à MP (medida provisória) dos Impostos em dois projetos de lei, a serem enviados ao Congresso o mais breve possível.
A moeda passou a manhã em estabilidade, mas se firmou no positivo à tarde. Já a Bolsa fechou em alta de 0,54%, a 144.872 pontos, com impulso da Vale (+1,77%) e da Petrobras (+1,15%).
Em dia de agenda esvaziada, o mercado se voltou para as movimentações em Brasília.
O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) segue em busca de uma solução para o Orçamento depois que o Congresso enterrou, no início do mês, a MP (medida provisória) dos Impostos.
Segundo o ministro Fernando Haddad (Fazenda), em informação adiantada pela Folha na terça-feira e posteriormente confirmada em entrevista à Globonews, o Executivo vai fatiar as medidas de compensação à MP em dois projetos de lei.
Um dos projetos conterá medidas de contenção de despesas, com impacto estimado em R$ 15 bilhões, e o limite mais rigoroso para uso de créditos tributários na compensação de impostos a pagar, que pode ampliar a arrecadação em R$ 10 bilhões no ano que vem.
Entre as medidas de ajuste nos gastos, Haddad citou mudanças no seguro-defeso (pago a pescadores artesanais no período em que a atividade é proibida), no Atestmed (sistema online para concessão de auxílio-doença sem perícia presencial) e a inclusão do Pé-de-Meia no piso da educação.
Segundo ele, a estratégia de separar a agenda de ajuste nas despesas serve também "para que a oposição não tenha o pretexto de não votar o que eles reivindicam como a agenda deles". Ao todo, de acordo com o ministro, a previsão é que o primeiro projeto renda mais de R$ 20 bilhões.
O segundo projeto deve ficar com o aumento da taxação das apostas esportivas (bets) e o acréscimo na tributação das fintechs e do JCP (Juros sobre Capital Próprio, uma forma de remunerar os acionistas de uma empresa). Essas medidas poderiam incrementar as receitas em R$ 8,3 bilhões em 2026, segundo os cálculos iniciais do Executivo.
O intuito era ter enviado os dois projetos na terça-feira, mas o dia terminou sem que as propostas fossem de fato apresentadas ao Congresso.
As medidas previstas para os projetos de lei são as mesmas que constaram na MP de aumento de impostos, derrubada pela Câmara em 8 de outubro, último dia do prazo de tramitação do texto. A Constituição proíbe que o governo repita o envio dessas iniciativas por meio de outra MP na mesma legislatura, mas é possível reapresentá-las via projeto de lei.
Para o governo, essa estratégia é suficiente para fechar os números do Orçamento de 2026 sem prejuízo às despesas do Executivo e às emendas parlamentares, que sofreriam um corte de R$ 7,1 bilhões sem a compensação.
Na análise de Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, o impasse no Orçamento do próximo ano eleva a incerteza fiscal e a desconfiança do mercado sobre a responsabilidade para com o equilíbrio das contas públicas.
"A falta de previsibilidade compromete o planejamento econômico e pressiona expectativas de juros e inflação para o próximo ano", afirma.
Sem indicativos claros sobre como serão as tramitações dos dois projetos, o mercado adota cautela, à espera de mais informações.
Ao mesmo tempo, seguiram no radar as negociações comerciais entre Brasil e Estados Unidos no âmbito do tarifaço do presidente Donald Trump.
Negociadores dos dois países agendaram para domingo (26), na Malásia, um encontro entre Lula e o líder americano. Os dois presidentes irão participar da Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático), e a cúpula será realizada de 26 a 28 de outubro, portanto, com uma margem pequena de datas para a reunião.
Diplomatas brasileiros adotam cautela sobre o assunto por não haver confirmação oficial da Casa Branca, mas as duas partes atuam para que a reunião ocorra. Também não está claro se os governos terão algum anúncio a ser feito em relação à redução das tarifas de importação de 50% sobre produtos brasileiros, já que as negociações mais sérias a respeito das sobretaxas começaram há pouco tempo.
A largada das tratativas foi dada na semana passada, em reunião entre o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio. Foi o primeiro encontro dos chefes da diplomacia dos países desde que Trump e Lula conversaram.
Ainda na esfera do tarifaço, os investidores seguiram atentos às negociações entre EUA e China.
Na terça, Trump disse esperar que o encontro com o líder chinês, Xi Jinping, gere um acordo, mas afirmou ser possível que o encontro não aconteça. "Tenho um ótimo relacionamento com Xi e espero fazer um bom negócio com ele. Quero que ele faça um acordo positivo para a China, mas tem que ser justo."
A reunião está marcada para acontecer no fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, na Coreia do Sul, no fim deste mês.
O presidente Donald Trump anunciou sobretaxas adicionais de 100% sobre produtos chineses e novos controles de exportação sobre "todo e qualquer software crítico" até 1º de novembro, nove dias antes da atual trégua tarifária entre os dois países expirar.
No sábado (18), o governo chinês anunciou que representantes dos países devem se encontrar nesta semana para uma nova rodada de negociações.
As novas medidas comerciais foram uma reação à expansão dos controles de exportação de elementos de terras raras pela China, produtos essenciais para uma série de indústrias, da automobilística à de defesa.
A escalada de tensões entre Estados Unidos e China tem voltado a despertar temores de uma guerra comercial de grandes proporções, semelhante à do início do ano.


