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Governo cogita nova MP de controle de despesas para evitar bloqueio no Orçamento de 2025
Governo cogita nova MP de controle de despesas para evitar bloqueio no Orçamento de 2025
Por Idiana Tomazelli/Folhapress
23/10/2025 às 21:00

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil/Arquivo
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cogita a publicação de uma nova MP (medida provisória) com medidas de contenção de despesas para evitar a necessidade de um bloqueio adicional de gastos no Orçamento de 2025.
A estratégia ainda está em avaliação pelos técnicos do governo e só será adotada se houver segurança jurídica de que não há afronta à Constituição, que proíbe a reedição de MP com conteúdo igual a outra rejeitada ou que teve eficácia exaurida na mesma sessão legislativa —caso da MP 1.303, que perdeu validade sem ser apreciada pelos parlamentares.
A eventual edição da MP não anula a decisão de tratar do pacote de ajuste nas contas em dois projetos de lei separados. A negociação continuará sendo feita com o Congresso Nacional.
A principal vantagem da MP é a vigência imediata, o que ajudaria o governo a restaurar regras mais duras de controle de despesas e evitar o aumento do gasto obrigatório neste ano.
A maior preocupação é com o seguro-defeso, benefício no valor de um salário mínimo (R$ 1.518) pago a pescadores artesanais no período em que a atividade é proibida.
A MP que perdeu validade limitou a despesa com a política ao montante previsto no Orçamento, em moldes semelhantes ao praticado no Bolsa Família. Antes, o benefício era considerado obrigatório, ou seja, a previsão orçamentária precisava acomodar quaisquer concessões adicionais.
Sob a vigência da MP, o governo precisou represar a concessão do seguro-defeso para respeitar o limite orçamentário —hoje em R$ 6,4 bilhões, já integralmente consumidos. Para defensores da medida, trata-se de um incentivo à revisão dos cadastros para eliminar fraudes e irregularidades e abrir espaço a quem realmente tem direito ao benefício.
Com a derrubada da MP, porém, o benefício voltou a ser obrigatório. Técnicos do governo estimam que o estoque represado, caso fosse concedido, poderia gerar uma despesa adicional de R$ 2 bilhões a R$ 2,5 bilhões neste ano, às custas de cortes em outras áreas, como investimentos. É essa pressão que a equipe econômica tenta evitar.
O governo já precisou aplicar um bloqueio de R$ 12,1 bilhões neste ano, devido à expansão de gastos obrigatórios, como benefícios previdenciários. A ampliação do seguro-defeso impulsionaria essa cifra num momento em que já há maior dificuldade para fazer contenções, dada a proximidade do fim do ano.
O Executivo já está sob pressão dos pescadores para normalizar as concessões do benefício seguindo a lógica de despesa obrigatória. A CBPA (Confederação Nacional dos Pescadores e Aquicultores) enviou um ofício a ministérios pedindo a "adoção de medidas urgentes" para restabelecer os pagamentos.
No documento, a entidade lembra que a MP 1.303 teve a eficácia encerrada em 8 de outubro de 2025. "Dessa forma, não há respaldo jurídico para a continuidade do sobrestamento [das análises do seguro-defeso], sendo dever da administração pública adotar as providências necessárias à recomposição orçamentária e à normalização dos pagamentos do benefício", diz.
"A manutenção da suspensão vem agravando a vulnerabilidade econômica e social das comunidades pesqueiras, além de comprometer a credibilidade da política pública voltada à proteção do pescador artesanal durante o período de defeso", afirma a CBPA.
A MP que perdeu validade ainda continha outras ações com impacto ainda este ano, como prazo de duração menor para auxílio-doença concedido por meio de atestado médico (sem perícia presencial) e um limite orçamentário para o pagamento de compensações previdenciárias a regimes próprios de estados e municípios, devidas quando o aposentado realizou no passado algum tipo de contribuição ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).


