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PONTE SALVADOR-ITAPARICA: O ÓTIMO É INIMIGO DO BOM

Eduardo Salles

PONTE SALVADOR-ITAPARICA: O ÓTIMO É INIMIGO DO BOM

14/10/2025 às 14:57

Atualizado em 14/10/2025 às 14:57

Tenho o maior respeito e admiração pelo ex-senador Waldeck Ornélas, figura histórica do planejamento urbano-regional da Bahia. Mas peço licença para discordar de seu artigo publicado recentemente, intitulado “Ponte Salvador-Itaparica: fora de tempo e lugar”. Trata-se de um ponto de vista que, embora legítimo, ignora aspectos fundamentais sobre a realidade logística e o futuro do desenvolvimento baiano.

Fui um dos defensores da rescisão do contrato com a antiga concessionária ViaBahia, que administrava a BR-324 com ineficiência por mais de 15 anos. A rodovia é fundamental para Salvador e o interior. No entanto, mesmo com uma nova concessão e melhorias como terceiras faixas e pavimentação de qualidade, a BR-324 sozinha não resolve o gargalo logístico da chegada à capital baiana.

É nesse contexto que a Ponte Salvador-Itaparica, longe de ser um projeto fora de tempo e lugar, como foi classificada, revela-se uma necessidade estratégica urgente ao estado. Salvador tem apenas uma via de entrada e saída. A BR-324 vive congestionada, saturada e, frequentemente, paralisada por acidentes, obras ou engarrafamentos causados pelos grandes fluxos de veículos nos feriados. A ponte criará uma segunda rota de chegada e saída da capital, garantindo mais segurança, fluidez e eficiência logística, essenciais tanto aos cidadãos quanto à economia.

Mais que uma solução local, a ponte é um vetor de integração regional e desenvolvimento econômico. Ela aproxima Salvador do Recôncavo, do Baixo Sul e do Litoral Sul. Municípios como Valença, Ituberá, Cairu, Camamu, Maraú, Itacaré, Ilhéus, Una, Canavieiras e Porto Seguro terão maior conectividade e ganho no fluxo turístico, com impacto positivo em empregos, renda e estrutura urbana.

No Recôncavo, há décadas abandonado, a ponte pode ser a chave para reativar economicamente cidades como Nazaré, São Félix, Maragogipe, Santo Amaro, Salinas da Margarida e Jaguaripe, promovendo sua integração aos mercados da capital. Ao contrário do que se diz, a ponte não “sugará” essas regiões, mas poderá valorizá-las e reanimá-las economicamente.

Outro argumento decisivo é o logístico. Com a ponte, cargas como contêineres de algodão, grãos e fertilizantes terão acesso mais rápido e eficiente aos portos de Salvador e Aratu, descongestionando a BR-324 e fortalecendo a competitividade dos terminais baianos. Isso melhora o escoamento da produção, reduz custos e amplia as oportunidades de exportação e importação — um salto essencial ao crescimento econômico do estado.

Em contraste, o sistema ferry boat se mostra cada vez mais obsoleto. Opera com embarcações antigas, muitas vezes sem condições mínimas de conforto e segurança aos passageiros. Além disso, é um serviço economicamente inviável, mal gerido e altamente dependente de subsídios do Estado. Soma-se a isso o transtorno diário causado pelas filas intermináveis de veículos à espera do embarque, que atravessam diversos bairros, desorganizam o trânsito e causam enorme mal-estar à população. Ao longo dos anos, tem se revelado incapaz de atender com eficiência à demanda entre Salvador e a Ilha de Itaparica. Permanecer refém desse modelo é insistir no atraso.

Também não podemos ignorar o fator humano. A BR-324 é uma das rodovias com maior número de acidentes no estado. A ponte pode, literalmente, salvar vidas, ao oferecer uma alternativa de tráfego que redistribui o fluxo, reduz riscos e melhora a segurança viária.

Por fim, é preciso realismo. A crítica de que a ponte será obsoleta por ter apenas quatro faixas ignora o fator econômico: esse projeto já custará cerca de R$ 12 bilhões. Incluir ferrovias ou seis faixas agora tornaria a obra inviável. A ponte possível hoje é melhor do que uma ponte idealizada que nunca sairá do papel. Obras de grande porte são feitas em etapas — Lisboa que o diga. Esperar pelo perfeito é se conformar com a estagnação.

A Ponte Salvador-Itaparica não é um luxo, é uma necessidade. Não é um trambolho, é uma solução viária, econômica e social que já chega tarde. É, acima de tudo, uma ponte para o futuro da Bahia.

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